Via Láctea aborda questões raciais por meio da saga de um grupo de alienígenas em meio à pandemia.

Alienígenas chegam à Bahia com o objetivo de dominar o planeta quando, prestes a dar início à missão, têm seus planos impactados por um fenômeno global: a pandemia de covid-19.
Escrito por Almasy e pelo também ator Genário Neto, o filme "Via Láctea" foi rodado em cinco dias de fevereiro, no Alto do Cabrito, Subúrbio Ferroviário de Salvador, e se propõe a discutir questões sociorraciais. A dupla - famosa por interpretar, respectivamente, Júnior e Meire, na websérie Na Rédea Curta -, dá os primeiros passos à frente de uma produção cinematográfica cuja equipe é totalmente baiana e majoritariamente negra. Segundo os roteiristas, o curta-metragem - pensado, escrito e gravado durante a pandemia - chega para agregar ao audiovisual da Bahia.
Assista:
“É um filme que lida com o fantástico. A ficção científica e a fantasia têm o poder de usar alegorias para refletir a própria condição humana. Têm muitas provocações”, diz Thiago, que faz uma pequena participação frente às câmeras. A começar pelo fato de que os alienígenas, que vêm na condição de colonizadores, passam a enxergar sob a perspectiva de pessoas em posições subjugadas.
“É uma história que aborda o colonizador entrando no corpo do colonizado e experimentando essas subjetividades, as violências atravessadas por aquele corpo”.
Almasy conta ainda que a obra, que tem cerca de 27 minutos, marca sua estreia como diretor e a amizade de oito anos com Genário Neto, um dos protagonistas do curta. "É a nossa entrada definitiva no audiovisual. Em Salvador, a gente tem uma carência grande, que coloca nós, atores, à espera dos trabalhos chegarem. Agora estamos nos capacitando para contar nossas próprias histórias e perspectivas”, afirma, ao lembrar que tanto ele quanto Genário estrearam esse ano nas telonas. Thiago no longa Eu, Empresa (Leon Sampaio e Marcus Curvelo), lançado na Mostra de Cinema de Tiradentes, e Neto na produção Carnaval (Leandro Neri), da Netflix.
Para Genário, atuar em Via Láctea, contudo, foi uma experiência diferente de todas as outras. “Iniciamos de um argumento e fomos desenvolvendo as cenas. Escrever foi um processo rápido, uns quatro dias. Atuar foi complicadíssimo, primeiro porque eu estava fazendo uma coisa que ajudei a construir, depois porque a gente não teve processo de ensaio, preparação, por causa da pandemia. Tentei desapegar um pouco das práticas humanas. Todo o meu movimento interior, de memória e emoção, estava no sentido de que eu precisava pensar em alguma matéria inocente. Porque aquele ser luminoso era bem inocente”, explica o ator.

Com orçamento de R$100 mil, fruto do Prêmio Conceição Senna de Audiovisual, por meio de edital municipal da Fundação Gregório de Mattos, e incentivo da Lei Aldir Blanc, Via Láctea apresenta ao telespectador trilha sonora própria, atmosfera de magia e narrativa que toca também questões sociais, como representatividade - sobretudo ao dar protagonismo aos personagens quase que na mesma medida. “Acho que vai impressionar muita gente. O filme está com uma primazia estética muito bonita e que marca o momento da pandemia, para Salvador e para a Bahia”.
Via Láctea tem produção executiva de Ary Rosa e Fábio Osório Monteiro, que também atua. Esta é a primeira produção, com verba captada, assinada pela ULTIMA Plataforma, selo de produção artística criada por Thiago com o ator Sulivã Bispo, intérprete de Mainha, em Na Rédea Curta.
O curta, garantem os autores, parte da premissa de descolonizar narrativas e dar protagonismo e dignidade à existência de pessoas historicamente invisibilizadas. Márcia Limma, Genário Neto, Fábio Osório Monteiro, Antônio Fábio, Fernanda Silva e a atriz mirim Aya Dantas dão vida a personagens que, reforça Almasy, são complexos o suficiente para agregar valor à Via Láctea, que tem potencial para se desdobrar em coisas maiores.
As informações são de Tailane Muniz
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