Grupo folclórico paranaense preserva as tradições e tem a receita certa para manter a alegria em tempos de isolamento social.|
A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo, fica ao Sul da Itália, tem paisagens belíssimas e é um cartão postal inesquecível para quem viaja a turismo na Europa. Porém, houve um tempo de grandes dificuldades econômicas, em que muitos sicilianos viram na América uma nova oportunidade de trabalho e de prosperidade. No início do século XX, muitos deles chegaram ao Paraná e se estabeleceram em Curitiba.
E para matar as saudades da cultura e dos costumes de origem, muitas comunidades viram a necessidade de organizar por aqui grupos multiculturais, de maneira a preservar as danças, a música típica e a culinária.
Dessa maneira, surgiu a Associação Siciliana Isola Del Sole que está vinculada ao Centro Cultural Dante Alighieri.
Atualmente o Isola Del Sole possui 25 integrantes ativos na preservação das tradições da Sicília, e é um dos grupos que integra a Aintepar, associação que organiza anualmente um grande festival em Curitiba, para celebrar as diferentes etnias que colonizaram o Estado do Paraná.
E neste ano o evento será transmitido de maneira virtual, em decorrência do afastamento social imposto pela pandemia de Covid19. Ao invés de lotar o Teatro Guaíra, neste ano, o Isola Del Sole cumprirá a missão de levar suas danças para os quatro cantos do mundo via internet.
A apresentação do Grupo na programação do 59º Festival Folclórico de Etnias do Paraná será no dia 21 de agosto de 2020, às 20h, nas redes oficiais do evento.
Mesmo em meio à pandemia, neste primeiro semestre o grupo não deixou de produzir seus projetos folclorísticos da cultura siciliana, apenas precisou adaptar as tarefas para o modo remoto.
Jaqueline Cristina Paulo é Vice-Presidente no Gruppo Siciliano Isola Del Sole. Ela conta que preservar as tradições vai além de somente dançar.
“Nossa diretoria de comunicação criou um material de estudos exclusivo para os dançarinos, que leva o nome "Conhecendo a Sicília". Neste material, é explicado o orgulho de sermos sicilianos (frase típica das nossas apresentações) e as tradições da ilha da Sicília, dentre elas: folclore, instrumentos, culinária, geografia, história, política, dança, canções, mitos. Com isso, continuamos trocando ideias, mas de maneira virtual”, explicou.
E vale de tudo! De aplicativos de mensagens ao telefone móvel. O importante é conectar todo mundo num mesmo objetivo e permanecer fortalecendo estes laços.
“Conseguimos produzir, mesmo remotamente, coreografias para danças futuras, criar novos materiais, trajes, e até compartilhar receitas saborosas, dicas de vinhos e também fazer planos de viagens. Afinal, tivemos uma ótima experiência em 2017 na Sicília, num passeio onde conhecemos as províncias, apresentamos nosso folclore e fizemos muitos amigos. Com toda a certeza iremos voltar pra lá em breve. Então, para nós o dia a dia é folclore, a convivência da família italiana nunca para”.
Há 20 anos participando do grupo folclórico, Jaqueline sentiu falta dos eventos que estavam programados para 2020. Afinal, as apresentações do Isola já fazem parte do calendário anual das famílias envolvidas. A última dança apresentada foi na cidade de Palmeira, durante o Festival Viva o Folclore, no início de março. Em seguida, vieram as restrições da quarentena, que exigiram fôlego e coragem para driblar a ansiedade de, em breve, poder reunir todo mundo novamente para aquela festança.
“Nossa última apresentação foi incrível, estávamos entre amigos, numa grande celebração muito animada. Porém, sentimos muito pelos eventos cancelados, até mesmo dentro do próprio Centro Cultural”, relata.
Jaqueline destaca também a programação que viria logo na sequência, nas comemorações do Dia Nacional DANTEDI, em 25 de março - data início da jornada do poeta Dante Alighieri e os 700 anos de sua morte.
“Teríamos nossa participação como grupo folclórico também em outros recitais, exposições de arte, viagens e jantares. Tudo cancelado, inclusive pelo menos umas três apresentações que faríamos esse ano no Memorial de Curitiba, no pavilhão étnico”.
Nenhum componente teve sintomas e/ou testou positivo para Covid19, diferente de alguns familiares residentes fora de Curitiba que infelizmente se contaminaram.
“Nosso olhar em relação ao outro mudou. E sabemos que no retorno das atividades, tudo terá que ser um pouco diferente, com mais cuidados. O ambiente físico de ensaios do folclore já está adequado a nova realidade, com termômetros, totens com álcool gel e tapetes desinfetantes para usufruirmos, num futuro próximo. Acredito que será assim por um bom tempo, mesmo após a vacina ser descoberta e aplicada e tivermos a certeza de que todos os dançarinos estiverem ‘negativos’”.
Dançar de máscaras não está nos planos do grupo. Jaqueline acredita que a máscara em si não impede a contaminação 100%, pois têm outros fatores importantes a se considerar.
“Tem a proximidade dos pares, o suor, o toque físico, um possível esquecimento dos protocolos e a aglomeração não recomendada. Não somos um grupo de dança profissional. Dançar para a gente não é o essencial, é apenas mais uma atividade dentre tantas outras, então, se não estamos ensaiando, estamos vivendo o folclore de outras maneiras. Cada grupo tem suas peculiaridades. Cada etnia tem as suas tradições. Estamos tranquilos quanto a nossa conduta e representatividade”, destaca.
Continuar respeitando o distanciamento, sem contato físico, apenas em contato telefônico e virtual, devem fazer parte da rotina da comunidade nos próximos meses. Jaque lembra que o Isola é formado por pessoas de todas as idades e que, principalmente os mais idosos, devem ter suas saúdes preservadas.
“São 24 anos de história que desejamos perpetuar por meio de nossos amigos, familiares, netos e bisnetos. Para isso, temos que ser responsáveis e preservar nossa saúde. Por isso é essencial nos mantermos assim agora, para nos encontrarmos futuramente e conseguirmos além de dançar, cantar, tomar nosso vinho, comer nossa massa e termos a nossa vida social”.
De um modo geral, as transformações ocorridas no mundo promoveram momentos de muita reflexão para todos. E nesse período que exige isolamento, Jaqueline faz questão de sugerir uma boa receita:
“Vivam suas tradições familiares da vida real. Criem receitas típicas que antes dizíamos não ter tempo, as massas, etc. Acompanhem festivais de danças online, artistas locais e italianos, shows, redes sociais (as nossas e as do mundo). Leiam livros, blogs, jornais e assistam filmes, como os romances do escritor Mario Puzo, que retratam muito bem a nossa Sicília. Neste tipo de material, são mostrados por meio da arte cinematográfica e fotografia, o governo e a máfia (que tira dos ricos para dar para os pobres), as relações de carinho e respeito pelos familiares, a tradição, orgulho e honra siciliana por meio de personagens que demonstram atitudes reais e humanas”.
Galeria de algumas fotos em festivais anteriores:
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