Toca Cultural - Música & Opinião | DR SIN em Curitiba
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DR. SIN se despede dos palcos, em Curitiba, e diz que esta foi a última turnê.

Clóvis Cézar Pedrini Jr

Em plena quinta-feira uma banda power trio brasileira que canta em inglês suas próprias músicas lota uma casa de show e faz com que ninguém arrede o pé antes das 3h da manhã. Por incrível que pareça isso ainda existe, e o responsável foi o Dr. Sin no Crossroads em Curitiba no último dia 03 de março.

 

O show com duas horas de duração teve mesmo sabor de despedida, já que a banda anunciou que esta será sua última turnê depois de quase 25 anos de uma carreira inegavelmente vitoriosa. O show também foi acompanhado por familiares de Andria e Ivan e a cada música uma história era lembrada.

 

A banda paulistana é um desses raros fenômenos musicais, quase improváveis de acontecerem. Andria Busic (vocal) e seu irmão Ivan Busic (bateria) são filhos do renomado jazzista André Busic.

 

A banda bateu várias vezes na porta do sucesso internacional. Quando assinaram com a Warner Music em 92, chegaram a entrar e tomar umas, mas acabaram preferindo fazer sua própria festa para menos pessoas.

 

Não são poucos os grandes momentos do grupo: Hollywood Rock, dois Monsters of Rock, Rock in Rio, abertura para Pantera, Mr. Bir, Joe Satriani, Steve Vai, Bon Jovi, Nirvana, L7, Quiet Riot, Dream Theater, AC/DC, diversas trilhas para comerciais, seriados, novelas, filmes, clipes estourados na MTV, parceria com músicos de vários gêneros e o principal, o total reconhecimento musical de crítica e público.

 

Tecer comentário sobre o “clima” entre os integrantes depois de vê-los em um show poderia ocorrer numa leviandade e teríamos de adentrar no campo do subjetivismo observacional, porém, sem medo de errar, era visível o distanciamento entre os dois irmãos com o guitarrista Edu Ardanuy.

 

Desde agosto de 2015, o clima no trio está estremecido publicamente. Ardanuy tomou a dianteira e lançou uma nota anunciando o fim das atividades com o Dr. Sin culpando principalmente a um “desgaste físico e emocional ao longo de todos esses anos num cenário nada favorável ao gênero musical que tanto amamos, o tal do ‘Rock’n’Roll’” e de “andar na contramão e não se render a fútil mediocridade do mercado musical durante mais de duas décadas acaba desgastando e acho que fomos vencidos pelo cansaço!”, escreveu.

 

No final do show em Curitiba conversamos com Ivan Busic e a entrevista você confere na íntegra a seguir:

Duas horas de show, eu acompanhei alguns shows de vocês aqui no Paraná, mas este teve mais emoção no palco não é? Só faltaram os fogos de artifícios no final.

 

Ivan Busic: É. Esta é uma turnê bem emocionante, pois como todo mundo sabe é a turnê final da banda, então existe uma mescla, uma mixagem de tristeza com alegria e os shows realmente vão tendo momentos marcantes. A vida vai passando, é parte da minha vida essa banda. Então um filme vai passando durante as músicas e a cada música que chega no fim você pensa ‘putz, é a última vez que toco esse som’, então é bem emocionante mesmo.

 

Isso que eu iria pedir Ivan, vocês são compositores natos, de mão cheia, podiam fazer discos por décadas. E agora quando vier uma música do Dr. Sin na cabeça o que você vai fazer com essa música, jogar na gaveta?

 

Ivan Busic: O que vai acontecer é que a gente vai fazer outros projetos agora. Pensar em uma nova banda, entendeu?! O Dr. Sin vai parar. Eu e meu irmão compomos sempre. Eu não sei com quem a gente vai tocar, estamos focados mesmo só na turnê de despedida. Não sei se a gente vai tocar com alguém, com quem a gente vai se juntar, se a gente vai ter a ideia de fazer uma banda e convidar alguém ou sermos convidados, coisas que a gente ainda não sabe.

 

E o projeto com a Fafá de Belém?

 

Ivan Busic: Com a Fafá de Belém a gente tocou algumas vezes como músicos contratados, como a gente toca com alguns, grava com muitos também. Quem nos chama, se estamos disponíveis, a gente sempre aceita, foi uma puta honra tocar com ela no Brasil, na Europa. A gente tocou tanto um show chamado “Inusitado” que era com o Edgar Scandurra e ela, e que era só rock n’ roll e ela cantando rock e um outro projeto que era o show dela mesmo, na virada de ano, fomos para a Europa. Então o que que acontece, a gente sempre gosta de desafios, de novidades e tocar projetos com pessoas diferentes.

 

Tocaram com o Gus Monsanto esses dias atrás, algum projeto paralelo vem por aí?

 

Ivan Busic: Não não, ele só participou de um show nosso como convidado, puta vocal, um cara legal, já participou de um disco nosso, ele canta um pedaço de uma música do discoBravo. É um grande vocalista.

O motivo da banda parar nunca foi, como o Edu citou na primeira nota dele, ‘mercado’.

 

Se eu tivesse interessado em ‘mercado’ nunca teria entrado no rock n’ roll.

 

Aqui é coração, entendeu?!

 

A banda parou justamente por motivos internos, não tem nada a ver com mercado, entendeu.

 

E era mais fácil pra ele dizer isso na época e talvez na cabeça dele seja esse mesmo o motivo, na nossa não. 

Pergunta de um fã que estava com a discografia completa de vocês ali. Pedi pra ele o que eu devia perguntar para você e ele disse “eles vão fazer igual ao Mötley Crüe que anuncia dez despedidas e nunca param”, é isso mesmo? Essa é a esperança dos fãs.

 

Ivan Busic: Acho que é a esperança dos fãs, né (risos). Muita banda faz turnês oportunistas, mas às vezes por causa do empresário que obriga a isso. No nosso caso a gente decidiu mesmo. A turnê já iria parar nesse dia 20 que já era um show marcado em Campinas. Eram quinze shows de despedida que acabaram virando trinta e dois, já que algumas casas propuseram e não recusamos, já que estamos no trajeto até 20 de março, decidimos fazer um monte de shows, estamos rodando o Brasil inteiro, em lugares super distantes, fomos parar no interior da Bahia, Macapá, sempre com shows cheios e a galera maravilhosa. É emocionante, os fãs do Dr. sempre vão.

O motivo da manda parar nunca foi, como o Edu citou na primeira nota dele, ‘mercado’. Se eu tivesse interessado em ‘mercado’ nunca teria entrado no rock n’ roll. Aqui é coração, entendeu?! A banda parou justamente por motivos internos, não tem nada a ver com mercado, entendeu. E era mais fácil pra ele dizer isso na época e talvez na cabeça dele seja esse mesmo o motivo, na nossa não. O nosso mercado sempre foi maravilhoso, nossos fãs estiveram lá. Tem altos e baixos? Claro que tem. Tem para nós, tem para o Whitesnake, tem para o Ozzy, tem para todo mundo. O foco nunca foi pensar “como estará o mercado? ”  A gente vive num país sertanejo, pô.

 

O show aqui estava cheio de fãs que tem banda inclusive. Se o Dr. Sin está acabando o que o Ivan fala para essas bandas que estão começando?

 

Ivan Busic: Exatamente. A gente ficou muito preocupado com aquele primeiro post do Edu por que dava uma impressão que o mercado está ruim. Aí o moleque olha e fala “se o Dr. Sin está acabando o que eu vou fazer, não vou nem entrar nessa”. Mas ao contrário, entra de cabeça, a música é tudo. O cara que está entrando agora pode se tornar um grande sucesso. E outra, o sucesso é uma coisa relativa. Você pode ser sucesso sem vender um milhão de cópias. Sucesso é você ser feliz fazendo o que gosta. A gente foi sucesso desde o primeiro dia. Não só no Dr., como no Platina, no Cherokee , no Slogan, Taffo, Supla, sempre me considerei sucesso por que a gente toca o que gosta. Então é perigoso você falar uma coisa como “o mercado tá ruim”. Se você pegar entrevistas de bandas da década de sessenta, já vai ter cara reclamando “que o mercado tá uma merda”, “que o rock morreu”. O rock não morre, rock é eterno.


 

E a carreira solo?  Rolou até trilha de novela.

 

Ivan Busic: O CD ‘Rock and Road’ foi super bem. É um CD que eu fiz a pedido do meu irmão que é produtor. Tinha algumas músicas minhas que eu considerava muito boas, modéstia à parte, são músicas gostosas de ouvir e o CD virou muito bem, ficou em várias rádios em primeiro lugar, acabou entrando em novela. Então é um CD que fez um barulho muito grande mas o meu foco sempre foi o Dr. talvez eu tenha até pecado em não ter dado muita atenção a ele. É engraçado, eu tive eu alguns momentos um sentimento de ciúmes, “puta que pariu, meu CD está indo tão bem, eu quero isso pro Dr.”, entendeu. É de tanto amor pela banda. E isso forma a nossa história, principalmente a minha e do Andria, com amor 24 horas por dia. Você nunca vai ler nada nos últimos 25 anos relacionado ao meu nome que não esteja ligado ao Dr. Sin. Essa é nossa maior prova do nosso amor pela banda. E essa coisa de influenciar músicos… Quase todos os músicos que eu conheço tem respeito e alguma influência do Dr. Mas é isso aí, missão cumprida, coisas novas virão.

 

Material novo dessa última turnê?

 

Ivan Busic: Existe uma pequena chance da gente filmar o show do Carioca Club, que talvez seja o show mais importante, entre aspas, todos são, mas como é na nossa cidade, na terra em que gente vive, São Paulo, vai ter uma emoção extra ali. Então, nesse 19 de março talvez role uma gravação e saia um DVD dali.

 

Qual momento você considera o ponto alto da carreira do Dr. Sin. que fez você pensar “estamos no auge, conseguimos”?

 

Ivan Busic: A gente já se divertiu muito. Acho que o Rock in Rio foi um grande momento, o Monsters Of Rock, os dois que a gente fez e teve momentos impressionante s como a abertura para o AC/DC em 97 quando o CD Insinity estava muito bem, estourado por causa de “Futebol, Mulher e Rock n’ Roll”, mas o auge é poder tocar todos os dias da carreira como hoje e sempre. Valeu!

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