Cia. BR116 lança teatrofilme "Medeia", de Consuelo de Castro
top of page
Buscar

Cia. BR116 lança teatrofilme "Medeia", de Consuelo de Castro

No elenco estão Bete Coelho, Roberto Audio, Flavio Rochaa, Michele Matalon, Luiza Curvo e Matheus Campos.|


No ano em que comemora 10 anos, a Cia. BR116 estreia Medeia, de Consuelo de Castro. O projeto estava programado para ir aos palcos em 2020, quando a pandemia assolou o mundo, interrompendo qualquer possibilidade de criação artística coletiva. Impossibilitados de estarem em um teatro, o cinema surgiu como um caminho a ser trilhado, mas a arte cênica se fez presente como norte para criação.


Mas agora a temporada 2021 está confirmada de 7 de fevereiro a 12 de março, de quarta a domingo, no canal do Youtube da Companhia BR 116.


Misturando as duas linguagens, a trupe encena a tragédia escrita por uma das maiores dramaturgas brasileiras do nosso tempo. Em 1997, Consuelo de Castro escreveu sua versão do famoso mito grego, intitulada Memórias do Mar Aberto – Medeia conta a sua história. A narrativa de Consuelo é contundente, visceral, atual e não maniqueísta. Personagens como Jasão, Creonte e Glauce ganham dimensões e conflitos internos.


Consuelo salienta também a traição política, além da amorosa, sofrida por Medeia. Deusa, guerreira, amante e mãe, a voz de Medeia se confunde com a da autora.


Em março de 2020, com a chegada da pandemia e o fechamento dos teatros, a classe artística teve que se reinventar e buscar novos formatos. Sobre as dificuldades do processo criativo nesse momento crítico, Bete Coelho, atriz e diretora, comenta:

"As perguntas foram maiores que as respostas. Algumas dificuldades sanadas com insanidades e amizades. Soluções cênicas surpreendentes. Problemas econômicos gritando na vida dos envolvidos. A força da necessidade encontrando eco no poder da arte e da história. Nunca vimos tanta generosidade coletiva. E o seu contrário também."

A companhia reduz sua equipe, artistas dobram suas funções para darem conta da transposição do que antes era uma peça de teatro e passa a ser um teatrofilme, como eles preferem intitular.



Para Gabriel Fernandes, diretor, o cinema focado na dramaturgia e atores é o mais potente:

“Foi uma equação perfeita, gosto de filmar ator e amo a dramaturgia pungente e sofisticada da Consuelo. O ator, mais que o diretor, é quem está mais próximo do autor, expõe suas falas, dá vida, corpo, razão e emoção às personagens. Minha função foi, através da câmera e da edição, criar o terreno para florescer o trabalho dos atores e a história da Consuelo.”

Em meio aos novos desafios, vindos da exitosa montagem de Mãe Coragem, peça que contava com um grande elenco e uma plateia literalmente de ginásio, a Cia. BR116 encontra na tragédia, no teatro, no cinema e nos seus pares o caminho para se reinventar. O elenco de Medeia se deparou com inúmeros obstáculos e a partir deles construíram sua própria partitura de criação.


Roberto Audio, ator que interpreta Creonte, vê muitos pontos de ligação entre o processo criativo e a situação que o mundo está passando.

"Os estudos, a solidão, a loucura com o tempo, com as notícias, com a tensão, as dúvidas, o medo, tudo isso de fato foi usado como incentivo. A arte proporciona tudo isso. A grandeza dos detalhes e os transbordamentos onde vivenciamos, dividimos e repensamos as nossas relações com outro, com o mundo, seus símbolos, personagens e a história."


Consuelo de Castro


Uma das maiores escritoras do Brasil, dramaturga, autora, cronista e roteirista, Consuelo de Castro faz parte do seleto grupo de escritores surgidos durante o período da ditadura. Em 1969 escreveu a famosa peça "A Flor da Pele", texto que recebeu o Prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCT) tendo várias montagens pelo país.


Outros importantes prêmios também figuram em sua biografia, como Moliére e Governador do Estado de melhor autora por "Caminho de Volta", montada por Fernando Peixoto em 1974. Venceu o Concurso de Dramaturgia do SNT com "A Cidade Impossível de Pedro Santana". Seus textos foram montados pelos mais renomados diretores da cena brasileira como Gianni Ratto, Antônio Abujamra, Aimar Labaki e José Renato.


Dona de uma escrita feroz, teve textos proibidos pela censura quando era militante do movimento estudantil em 68. Consuelo sempre teve em sua obra a preocupação em mostrar a condição social e política da mulher, suas personagens femininas são sempre fortes e donas de seus destinos, mesmo que esse seja trágico. Sobre seus textos, o crítico Yan Michalski a define:

"Representante destacada da brilhante geração de dramaturgos surgida sob a ditadura, Consuelo de Castro é, entre os autores dessa geração, talvez a que possui o corpo de obra mais volumoso e diversificado. Em comum com os outros, ela tem o sentimento de inconformismo e indignação que perpassa tudo que ela escreve. O que a distingue dos outros é a sua excepcionalmente visceral noção de teatralidade, um diálogo notavelmente colorido, que ela cria com uma espantosa espontaneidade, e uma inquietação que a faz partir sempre em busca de novos caminhos"


Cia BR 116

Fundada há 10 anos por Bete Coelho, Gabriel Fernandes e Ricardo Bittencourt a partir da montagem do espetáculo o Homem da Tarja Preta de Contardo Calligaris, nasce a trupe BR116.


Em 2010, estreia o espetáculo Terceiro Sinal de Otavio Frias Filho, que volta ao repertório da companhia com temporária histórica no Teatro Oficina, onde recebeu mais de 2.900 pessoas e teve indicação ao Prêmio Shell de melhor atriz para Bete Coelho.

Em 2019, a companhia - junto a uma parceria com o Sesc - monta Mãe Coragem de Bertold Brecht, com um público de mais de 8.500 pessoas em sua temporada no Sesc Pompéia. Sucesso de crítica e público, o espetáculo foi o vencedor do Prêmio Shell de melhor direção para Daniela Thomas e recebeu indicações de melhor atriz para Bete Coelho e melhor trilha para Felipe Antunes. Bete Coelho - renomada atriz, diretora e fundadora da companhia - tem em seu currículo trabalhos dirigidos por grandes diretores como Antunes Filho, Zé Celso Martinez Corrêa, Bob Wilson, Paulo Autran, Gerald Thomas e Radoslaw Rychcik.

Fundamentados na força da coletividade e na afirmação do amor ao teatro, a Trupe BR116 toma emprestada as palavras do grande dramaturgo e escritor Otavio Frias Filho para definir sua filosofia: "o palco é onde a humanidade se reúne para falar de seus problemas mais graves, suas fraquezas mais inconfessáveis, seus exemplos mais terríveis, o único lugar onde a vida deve ser apresentada sem disfarces nem escrúpulos."


*Texto extraído da peça Terceiro Sinal. Cena IV, página 29. Editora Cobogó.


SERVIÇO

"Medeia"

Temporada: 7 de fevereiro a 12 de março de quarta a domingo.

Horário: 20h

Onde: Canal da BR116 no YouTube

Classificação: 18 anos

76 visualizações
bottom of page