Os paranaenses Rimon Guimarães, Alienação Afrofuturista e PECI participam de coletânea da Lab Dorsal
- Toca Cultural
- há 2 horas
- 3 min de leitura
Idealizada pelo curitibano João Davi ,‘Laboratório Tropical Vol.1’ traz encontros, diversidade e resistência criativa.

O Laboratório Tropical Vol. 1, lançado pelo Lab Dorsal (selo da multipremiada produtora Dahouse Áudio) no dia 31 de outubro, é mais do que uma coletânea: é um manifesto contra o algoritmo, contra a indústria predatória e pela liberdade criativa. Reunindo 16 artistas de 8 Estados brasileiros e mais de 30 colaboradores entre produtores, músicos e compositores, o projeto acontece em um espaço físico, resgatando o encontro real e a troca direta entre os artistas após anos de isolamento e autossuficiência digital. Cada faixa nasce da convivência, da experimentação e da curiosidade mútua, criando músicas que jamais poderiam surgir em isolamento ou como simples feats digitais.
“Nesse primeiro disco temos a premissa daquilo que será toda a nossa postura e construção de mercado. Diferentes estilos, de diferentes lugares se unindo para fazer música sem barreiras, potencializando assim as raízes brasileiras amplas territorialmente e culturalmente. Esperamos que possamos expandir a música de cada um desses artistas furando bolhas de ouvintes que não receberiam toda essa amplitude estética por conta do algoritmo”, explica o diretor musical João Davi, idealizador do projeto.

“Honestamente eu espero inspirar outros artistas e selos a entenderem que a força está nas pessoas, na arte, e nos encontros. Que a força coletiva impulsiona o que não tem uma chance ou uma chancela de participar dessa pequena fatia do mercado dominado por grandes corporações e big techs. Mas nós artistas é que temos a maior commodity. Sem a gente a indústria não tem nada a oferecer”.
O Laboratório Tropical Vol. 1 percorre paisagens sonoras e temáticas variadas: “Buena Onda” (Amanda Pacífico & Layse) abre com um pop latino-brasileiro caloroso que celebra a mulher latino-americana — voz e percussão caribenha, batida dançante e letras sobre liberdade e potência; “Essa Novela” (Getúlio Abelha & Louise França) mistura forró eletrônico e brega pop, narrando os afetos e reviravoltas de um relacionamento com refrões contagiosos e arranjos que transitam entre voz-violão e produção sintética; “Mossa” (Dante Oxidante & Zé Cafofinho) captura o pós-festa em grooves de axé e elementos experimentais, um encontro entre tradição e modernidade que privilegia o corpo e o balanço;

“A Voz Que Vem Antes do Tempo” (Irma Ferreira & Rimon Guimarães) é um mergulho em ancestralidade e pertencimento, com canto reverencial, percussão ritual e camadas que evocam memória e escuta interior; “Marcapasso” (Alienação Afrofuturista & Dr. Drumah) pulsa como um manifesto rítmico — batidas como marca-passo, afrofuturismo e produção lo-fi que falam de cuidado, resistência e ritmo vital; “Hoje Sinto Medo” (2DE1 & Ju Strassacapa) assume tom confessional e melancólico, com arranjos mínimos e cordas que sustentam uma letra sobre insegurança e a busca por sentido no fazer artístico; “Três Sóis” (Realleza & Otis Selimane) traz texturas cinematográficas e percussões africanas que evocam deserto e miragens, apontando para encontros e oásis afetivos; e “Coração Tropical” (PECI & Luê) encerra como declaração de amor à natureza do Brasil, unindo referências de rios, rabeca e uma estética tropicalista pop que celebra união regional e festa.

“Coletânea não é um conceito novo, mas é pouco usado no mundo digital. Temos playlists e feats mas poucos discos coletâneos que misturem estilos diferentes. Laboratório Tropical é mais do que uma playlist, aqui os encontros geram novas formas de música, os convidados participam ativamente do processo e do resultado gerando fusões que vão muito além de um compilado de músicas. Muito parecido com o que foi o disco Tropicália”, afirma João Davi.
“Os feats foram definidos pela improbabilidade. A principal regra para essas colaborações foi tirar cada um dos artistas das suas zonas de conforto e experimentar outros estilos e parcerias que no status quo não seriam pensadas”.
O Laboratório Tropical Vol. 1 consolida-se como um retrato potente da música brasileira contemporânea feita em comunidade — um disco que une estética, afeto e propósito. Em tempos de algoritmos e isolamento, o projeto reafirma o poder do encontro humano como motor criativo e político. Cada faixa é fruto de trocas reais e da escuta entre artistas que, ao compartilharem suas referências e territórios, constroem uma nova cartografia sonora do país.
Mais do que um lançamento musical, o álbum é um gesto coletivo de resistência e renovação, um lembrete de que a arte continua sendo o espaço onde a diversidade, o risco e a liberdade podem florescer sem pedir licença.


















